por Viktor Waewell
Você se coloca em posição de decidir o que vai fazer do seu dia. A coisa é simples, liga pra turma e diz que tá afim de ir ao circo. Encontra-se num bar, toma umas e sorri. Digo, divide a conta. Ou pede fiado.E viva o seu time de futebol, e vaia os políticos, e que vivam as mulheres bonitas. Assunto normal, da dia-a-dia, um fazendo graça pro outro. Os mais íntimos a conhecem como “conversa de bar”.De acordo com o programa da apresentação, o malabarista cospe fogo. Neste momento, você percebe que existe urgência em devolver ao mundo a cerveja que bebera. A vida é cheia de urgências. Algo parecido com uma garota de camisola te esperando na cama.Os palhaços conversam fiado e as crianças riem das cores. Os adultos... bem, é o fim da picada alguém não estar sempre sorrindo numa hora dessas. E os contorcionistas revelam-se fortes, carregando uns aos outros de um lado para o outro.Do lado de fora do circo, tem uma pessoa na bilheteria contratada especificamente para vender os ingressos. E tem o cara da entrada pra receber o ingresso e deixar a pessoa entrar no circo. Se a pessoa entrega o ingresso anteriormente comprado, ela entra. Se não entrega, não sorri.Boteco é coisa de gente grande. Uma branquinha ajuda. O tira-gosto é igual dinheiro, cada um tem o seu. A pausa é que é universal. Pausa para ir ao banheiro.O espetáculo já caminhava para o fim, quando a luz negra chapada tomaria conta do picadeiro. E as pessoas continuariam sorrindo. A cerveja é que agradecia, ou o que sobrou dela pedindo pra ser devolvida ao mundo com urgência. Você sorri e se levanta do boteco. A turma é boa. Um belo programa pra fazer num dia, ir ao circo. Entrar nele meio chapado. O preto chapado do picadeiro se torna uma sucessão de cores e de sorrisos, desde que você tenha os meios para sorrir.Como o boteco era bem ali - e os políticos e o futebol e as mulheres bonitas continuariam, respectivamente, no outro lado da televisão, nos belos gramados e em suas perfumadas camas - a boa turma caminha até o circo. Um garoto pede com aquele sorriso sem graça um trocado pra dar à pessoa especificamente contratada para vender ingressos. Não está sozinho, a turma está ali pedindo um trocado com urgência. Não tem como falar fiado: estão bem alimentados e não incomoda o frio, bastaria um pouco de sorriso.Quando o circo se fecha, você sorri satisfeito e vai embora. Pesa-lhe o fato de as mulheres bonitas estarem todas dormindo em suas respectivas camas perfumadas. Na porta do circo, o que ele fez foi comprar o ingresso e entrar para sorrir. Quanto à criança que pede... torna a pausa inevitável.
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