Por Mariana Vasconcelos - atriz e improvisadora da LPI-BH
Pra mim, improvisar é estar cara a cara com tudo o que eu queria esconder.É estar diante de mim, do que sou e aceitar o tempo todo as minhas limitações e fragilidades que nem sei descrever. De repente, descubro que não sou tão equilibrada e tranqüila comigo mesma como eu pensava ser. Vejo-me tendo que superar todas as minhas falhas históricas que a minha educação fez o favor de conceder. Traumas, sentimentos e atitudes que estão em mim, querem sair, precisam sair para que eu tenha alívio e consiga me divertir da maneira que deve ser. Meu trabalho exige essa diversão, que com ela, livre de qualquer impedimento emocional eu possa me jogar e estar por inteiro propiciando ao público o prazer que sentem em nos ver. Às vezes fico com a voz entalada, mas ela precisa sair. Porém não fora acostumada, pois durante muitos anos da minha vida ela se calava, não dizia uma palavra, apenas engasgava. Pergunto-me então pra que tanto sofrimento. Não quero que me vejam, mas insisto em aparecer. É que a improvisação me atrai. Ela me mostra alegria, tensão, simplicidade e uma maturidade do ser humano/jogador em lidar... Tranqüilo, ele joga com suas emoções, supera seus próprios limites com uma perspicácia espetacular. Tão despretensioso de si mesmo, mas ao mesmo tempo tem a noção exata de sua capacidade inata. Sem querer fazer rimas baratas, o que sinto é uma admiração e uma vontade de alcançar esse descompromisso humano que... sim, porque é preciso que não haja peso nem cobranças que só servem para engrandecer o orgulho que acredito não caber. Quando penso no que sou e no que almejo ser, começo a improvisar para que um dia eu veja acontecer, pra que lá eu possa me encontrar, pra que eu possa me desfazer, pra que eu possa me ver de todos os ângulos possíveis, pra que lá eu me torne alguém melhor, com menos manias, menos coisinhas. Eu quero me desafiar, eu quero tentar. Pra mim, improvisar está alem de gostar da estrutura e proposta do espetáculo. O que eu realmente espero é o desafio que isso vai causar, é ver o que eu posso e devo melhorar, é querer estar preparada pra coisas que eu não estou, é poder crescer com isso a cada dia de sofrimento. É aprender a lidar com todos os sentimentos mais fodas do mundo. No decorrer dos treinos acabo tirando muitas lições pra minha vida e uma delas é: “Não tente ser aquilo que você não pode ser”. As pessoas devem ter mais humildade. Aceite-se. No fundo, a cada dia de treino saio como de uma seção terapêutica que me exige não só as técnicas necessárias, mas um trabalho psicológico constante para que eu consiga ser tão simples e essencial que não precise mais pensar.
De repente me pego aflita sem mais nem porqueO que parece tão simples me faz só temerMe pego ansiosa sem saber o que fazerE quando estudo a teoria da improvisação me faz parecer Que tudo é tão “fazível”, mas não consigo verMais do que adaptar ou não é preciso estar de bem com vocêTudo o que eu queria esconder, agora deve aparecerTenho que ignorar meus medos, aceitar meus limites e fragilidades que nem sei descrever.E fico até remanchando, me pego esperando o que Deus conceder.
Comentários