por André Ferraz
3. A Análise Ativa como um caminho possível para o ator no Teatro Infantil
Uma possibilidade para lidar com a especificidade na atuação para o Teatro Infantil é trabalhar, desde a gênese do espetáculo, com exercícios de improvisação com base nas ações físicas e verbais construídas a partir de estudos detalhados da história a ser encenada, criando, com isso, maior organicidade no jogo cênico. Existem diversos “métodos” possíveis para alcançar tal propósito, mas o mais importante é descobrir o que toca de verdade os criadores que irão trabalhar com esses métodos. A Análise Ativa – método criado pelo diretor e teatrólogo russo Constantin Stanislavski - apresenta-se como um das propostas possíveis para alcançar essa relação orgânica com o texto cênico e falado e, conseqüentemente, com o público.A busca da “verdade” sempre impulsionou Stanislavski e isso o fez navegar por mares teatrais bastante diferentes. Na Análise Ativa o ator busca, a partir de si mesmo (sem construções prévias), os entendimentos pessoais (próprios do ator) do corpo, mente e espírito da personagem e das relações que ela trava ao longo da peça. Cuida-se para que o ator não decore o texto falado antes de ter esse entendimento, evitando criar uma relação distante, inorgânica, ou seja, uma relação falsa com os textos e ações da personagem. Stanislavski lembra que o ator precisa trabalhar a partir de “pequenos objetivos físicos que você pode fazer sinceramente, verdadeiramente, e em seu próprio nome”. A utilização de alguns procedimentos da Análise Ativa, como as “circunstâncias dadas”, a “adaptação”, a “comunhão” e a relação “intenção-objetivo” dão ao ator uma base concreta para que ele se relacione com o texto (falado e cênico) de uma forma mais orgânica e verdadeira, criando uma conexão real com o universo diegético (fictício) da peça.No teatro infantil isso passa a ser fundamental, pois é tentador realizar caricaturas - perigosamente inorgânicas – quando o universo diegético é extremamente lúdico e fora da realidade. Sendo assim, a “verdade cênica” é conseguida através dessa conexão que o ator cria com esse universo na prática dos ensaios, trabalhando com objetos claros e concretos, como se esse universo fosse real e possível, fugindo urgentemente dos clichês do gênero, como a infantilização das personagens e o excesso de ilustração desnecessária.
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