por André Ferraz
2. Aspectos sobre o gênero “Teatro Infantil”Existem certos aspectos que são comuns em quase todos os espetáculos infantis, a saber: duração aproximadamente de 40 a 50 minutos; linguagem corporal ágil e estilizada, com jogos de cena geralmente lúdicos; textos falados relativamente curtos em relação ao texto cênico total da peça; humor sempre presente, mesmo em temas dramáticos; músicas pontuando grande parte das cenas; figurinos e cenografia estilizados e coloridos; e em caso de palco à italiana, iluminação bastante colorida (poucos jogos de claro e escuro, com raras exceções). Ou seja, existem características específicas na produção do teatro infantil contemporâneo que o senso comum reconhece como sendo próprios de uma linguagem adequada para as crianças. O que, obviamente, não significa dizer que espetáculos que não se enquadrem nessas características não agradem a determinadas faixas etárias. Além disso, os aspectos que concernem à atuação cênica é, em muitos casos, movidas por paradigmas de caricaturas e estilizações de um universo pseudo-infantil que nem sempre tem a ver com o universo diegético acionado pela peça.O teatro infantil não é igual ao teatro adulto, pois ele tem especificidades de execução, mas ele tem que ser realizado com igual competência, isso sim. O curioso é perceber que, mesmo seguindo - ou não - uma certa lógica constante a respeito desses aspectos anteriormente citados, isso não garante o sucesso (nem mesmo o fracasso) de uma peça infantil. Segundo Paulo Freire, famoso pedagogo brasileiro, o educador tem que travar um diálogo com seu aluno e que isso seja através do coração (afeto), ao invés de “depositar” conhecimentos estéreis em suas cabeças “neutras”, até porque não existem cabeças neutras - nem tampouco crianças neutras. Talvez esteja aí o mais poderoso “aspecto” do teatro infantil: a relação dialógica entre ator e público pautada no afeto. Todos os jogos lúdicos, cores, musicalidade, humor e sagacidade do texto falado e cênico só funcionam se o ator souber utilizar isso em prol de um diálogo orgânico e verdadeiro com seu público. Para tanto, certas especificidades de recepção das crianças têm de ser levadas em questão, como, por exemplo, a relação com estruturas concretas de linguagem e as diferenças de ordem culturais, sociais, econômicas e relacionais. Não que os atores têm que fazer um espetáculo diferente para cada criança, mas, quando o diálogo realmente existe, a relação ator/adulto e espectador/criança necessita de cuidados específicos e os atores têm que saber lidar com isso.
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