por Germán MilichFalam os Leitores“A Proposta"
Na semana passada fui numa peça. Um saco! Não compreendi nada, acho que dormi no meio. Quando acabou, pulei fora para continuar com a minha vida pessoal e privada, que não tenho porque dar satisfação a ninguém, mas estava chegando na porta e uns dos atores estava falando com um senhor sério. Foi aí que ouvi a famosa palavra “Proposta”. O ator estava dizendo que “infelizmente as pessoas não tinham compreendido a sua proposta”. Então é isso? Proposta? A primeira crítica: no teatro tudo é mentira, eu já sei, não precisa que os atores também saibam. Depois mímica, o teatro precisa é de mais mímica. No texto não deu para entender nada, eles falavam uma coisa e respondiam outra, mas o que mais me incomodou foi que não dava para compreender por que eles faziam o que faziam. A proposta era essa? A única que percebi foi que se não gosto ou não entendo estou errado. Por isso, da próxima vez, vou no futebol, que é uma proposta bem mais clara.
Carta de um vizinho do Bairro Horto
Horóscopo:
Boas noticias, os ascendentes de Júpiter não morreram este mês. A Lua está favorável para Escorpião entrar pela janela de Sagitário. Um número importante na sua vida: 8001. Novas experiências para Peixes, leve sombrinha, camisinha e vaselina na bolsa. Abril será para os Arianos o mês dos logros, se não alcançarem seus sonhos, só o ano próximo.
Classificados:
Precisa –se voluntário bilíngüe ou poliglota com interesse na etimologia para projeto de curto prazo. 8843 2121.
DICIONÁRIO TEATRAL
Contrapartida Social: f. Filantropia básica que devemos declarar em qualquer projeto de lei para ter uma chance de pegar o dinheiro.
Popularização: f. Ação e efeito de vender o mesmo ingresso para o mesmo espetáculo para o mesmo público pela metade do preço.
Público Alvo: m. Setor exclusivo da população a quem está dirigida a nossa proposta, tanto artística quanto econômica.
Teatro: sus. 1. - Arte performática que pertence a alguns produtores.
ext. 2. – Espaço físico que pertence a alguns produtores.
Adeus Nelly
Morreu no Uruguai, em 1º de março deste ano, a mestra Nelly Goitiño, uma das principais praticantes de um tipo de teatro quase esquecido: O Teatro Sagrado.
Nelly Goitiño foi uma Mestra que marcou a alma de varias gerações de atores. Combateu pela leveza do ator em cena da mesma forma que pelo esclarecimento dos casos de centenas de companheiros desaparecidos durante a ditadura uruguaia.
Ela disse, certo dia: “Cuide do seu trabalho como ator, o resultado da peça cuida de si próprio”. A polêmica que se criou ante esse fato foi a velha e nunca resolvida discussão que a imprensa adora: quando um ator faz uma peça é para que o público compreenda ou é para que o público não compreenda? Uma peça é para dar certo ou para dar errado? Para mim a resposta é clara: cuide do seu trabalho como ator.
Arturo Fleitas, ator e diretor do Grupo Galpón de Montevidéu, tentou várias vezes registrar a voz e os ensinamentos de Nelly. Ela nunca aceitou. Um Mestre sabe de sua morte e da necessidade de não perdurar além da sua existência, eles estão mais preocupados em descobrir o que o ser humano tem a dizer do que ouvir a sua própria voz.
"Sempre falam que primeiro vem a saúde, a casa, a comida e depois, muito depois, a Cultura. Eu sempre pensei que a cultura vem junto com essas coisas. O pão que se come sem alegria, sem todos os dons da cultura, é pão amargo”.
Nelly Goitiño.
Adeus Mestra.
Comentários
“Comprar um dicionário e riscar as palavras a riscar. Assinar. Percorrer um dicionário e riscar todos os termos «indesejáveis». Acrescentar talvez alguns outros. Às vezes substituir as palavras riscadas por uma outra."
Um grande abraço, Laura.