El Estado y el Texto / O Estado e o Texto

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español -  Es el texto el enemigo del Estado. ¡No, por supuesto que no! El estado está en función del Texto, el Estado es para sostener el Texto, es por eso que en contrapartida para ayudar a la energía, el Texto debe ser leve, recordemos que estamos hablando de estructuras energéticas, espirituales y mentales, tejiendo sus tramados  en el aire. El Estado es la estructura, los puntos de apoyo, físicos, energéticos y respiratorios en armonía de una forma activa e intuitiva. Al Estado también se llega por la repetición. Para eso está la partitura, en la que el texto es nada más que una acción física, tal vez el mejor tratado sobre esto sea el capítulo  llamado Atletismo Afectivo de " El  Teatro y su Doble " de Antonin Artaud. português -  O Texto é o inimigo do Estado? Não, é obvio que não! O Estado está en función do Texto, o Estado é para sustentar o Texto, é por isso que em contrapartida, para ayudar a energia, o texto deve ser leve. Sempre lembremos que estamos fa

Da difícil arte de elaborar o óbvio

por Pedro Gondim Davis

Eu, aluno de graduação do curso de ciências sociais, aprendi muito da arte de ser antropólogo com um tal Pedro Archanjo Ojuobá*, Doutor formado nas ruas, sem nunca ter entrado em uma universidade (a não ser pela “porta de trás”: era bedel da Faculdade de Medicina), viveu entre livros, mulheres e festas. Das sistemáticas anotações em seu pequeno caderno (que com certeza foram vários, sendo sempre o mesmo) tirou todo o sumo de sua obra. Meticuloso e devoto de seu trabalho, conseguiu organizar seus escritos em quatro volumes: A Vida Popular na Bahia, Influências Africanas nos Costumes da Bahia, Apontamentos Sobre a Mestiçagem das Famílias Baianas e A Culinária da Bahia – origens e preceitos, todos publicados a custo de muito suor, pouquíssimo dinheiro e apoio incondicional de certos companheiros.

Na primeira metade do século XX, época em que se constituía o pensamento sociológico brasileiro, Archanjo abarcou em sua obra, mesmo sem uma base metodológica ortodoxa, alguns dos grandes temas pesquisados pela Antropologia Clássica: os mitos e a magia.
Buscava histórias e personagens da mesma forma que buscava as mais belas mulatas que subiam e desciam as ladeiras do Pelourinho - lugar em que foi montada a Tenda dos Milagres e que foi seu campo de pesquisa, sua moradia e seu quintal. Autor e personagem de acontecimentos fantásticos fazia da sua vida sua ciência e da sua ciência uma grande arte. Mulato baiano, bom de prosa e encantador, querido por toda a gente das ruas, Pedro Archanjo continua despertando reações das mais diversas naqueles que vieram depois dele; conseqüência dos muitos homens que foi, sendo sempre ele mesmo.
No entanto, o que particularmente gosto em Archanjo é o fato de ele ser uma personagem literária. Mais do que nunca, a linha muito tênue entre o real e o imaginário, entre o que um autor escolhe contar e o que não nos é revelado, se faz de invisível perante nossos olhos – olhos sedentos por uma ordenação objetiva das “coisas reais”. Estamos sempre transitando de um lado ao outro dessa linha (muitas das vezes nos equilibramos em cima dela; ou caminhamos com inadvertida desenvoltura, pisando com um pé em cada um de seus lados) sem nunca nos preocuparmos com a condição híbrida de nossas vidas.
Daí dá-se o árduo oficio do antropólogo: tentar dar conta desses aspectos frouxos e fugidios que constituem as relações simbólicas entre os homens; tão simples de serem vivenciadas e tão penosas de serem “agarradas”. E como não bastasse a delicadeza do conteúdo abordado, a forma pela qual ele é apreendido é a escrita. Ou seja, o exato momento no qual se cristaliza em uma folha de papel toda a espontaneidade que é experimentada na vida. Será então que tem outra forma de ser antropólogo que não sendo também um artista?
Ao brincar aqui com a figura de Pedro Archanjo (antropólogo/personagem), tento ressaltar o caráter “fluido constitutivo” (acredito eu) das relações entre a vida, a arte e a ciência. Visto pelos olhos de Archanjo a antropologia é ao mesmo tempo, vivência, arte e ciência. São três protagonistas em um espetáculo onde o importante não é descobrir qual dos três triunfa no final, mas sim compreender a coexistência fundamental dessas três esferas.
Sendo assim é sob a égide de Pedro Archanjo, brasileiro, mulato, sábio formado nas ruas, feiticeiro e, acima de tudo, uma personagem literária – que não deixa de ser real pelo simples fato de ter nascido da cabeça de um autor – é que pretendo continuar escrevendo e exercendo meu oficio de antropólogo e artista.

* Ojuobá: Termo que designa os olhos sagrados de Xangô, deus do trovão e do fogo.

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