Por Assis Vidigal – ator e improvisador da LPI-BH
No início era o verbo, logo depois Deus o fez e então virou IMAGEM. Por exemplo “gritar”, surge em minha memória um quarto de criança com uma luz baixa, uns brinquedos revirados pelo chão, umas prateleiras altas pregadas nas paredes que abrigam bonecos antigos, alguns quebrados, que foram dos meus pais. Do meu lado direito uma janela semi-aberta com uma cortina esvoaçante e um vento frio uivoso, assustador. Coloco-me na imagem de um menino de seis anos de idade. Tenho um urso de pelúcia do meu lado e quando vou segurar em sua mão ele mostra seus dentes afiados para mim. Grito.Tudo isso acontece em segundos, uns 10 ou 20. O público não consegue enxergar exatamente tudo aquilo que vejo, mas pequenos detalhes denunciados por mim fazem com que cada pessoa da platéia crie um universo único utilizando as imagens das suas próprias vidas.Às vezes vejo improvisações muito interessantes que conseguem me convencer completamente que algo está acontecendo de muito verdadeiro ali. Depois, quando estamos em uma roda para conversar, ouço o improvisador dizendo: “nossa! Eu vi direitinho tudo aquilo acontecer, o espaço, as pessoas. Até me emocionei”. Aí que entra a imagem.A imagem não é somente importante para a improvisação, mas também para o canto, para se dar um texto teatral, para a mímica, a dança, as artes plásticas etc. E obviamente não podemos pensar que basta ter muita imaginação para ser um bom improvisador. Assim, pode parecer que para improvisar basta apenas um grau de esquizofrenia. Não. Talvez um pouco. Não.Há Técnica. Há também a sensibilidade do improvisador que irá traduzir em cena aquela primeira imagem. Penso que deva existir um forte trabalho de concentração por parte do improvisador, pois assim ele consegue a partir da imagem dada ou criada penetrar em um campo de possibilidades infinitas, mas que de algum modo estão direcionadas de forma bem subjetiva em algum sentido. Por isso não é e nem pode ser um trabalho esquizofrênico. Além do que, muitas vezes estamos improvisando junto com outros improvisadores e que possuem dentro de si um milhão de possibilidades e no entanto precisamos todos juntos contar uma história. Mas por que nem sempre conseguimos traduzir a imagem daquilo que estamos criando? Creio que seja um trabalho eterno. Existem títulos para as improvisações que nos abrem um leque enorme de possibilidades, por outro lado existem aqueles que deixa todo mundo sem um pingo de idéia. Deve haver uma chave na gente que abre (ou fecha) portas sempre que se improvisa. Mas, para não depender do acaso, é preciso acessar sempre uma imagem e a partir dela construir a cena juntamente com as habilidades narrativas, corporais, improvisacionais.
Os 10 Mandamentos para a improvisação:
1- Tenha sempre uma Imagem. Ela te preencherá;
2- Não existe idéia ruim;
3- Escuta aberta e sobreaceitação sempre!;
4- Se você fez e o público não riu, isso não significa que não era bom;
5- Generosidade sem brilhantismos;
6- Tenha prazer em fazer uma improvisação;
7- Teatro é feito para o público!;
8- Ria de si mesmo e esteja certo de que em um dia (vários) você irá fracassar!;
9- Agilidade sempre;
10- Não cobiçar a improvisação do próximo.
Procure se desenvolver, nós somos diferentes.
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