por Glauco Mattos
Oi, muito prazer (smack), sou a Música Popular Brasileira, ou mais para os íntimos, MPB.
O que nós, da imensa minoria brasileira, podemos conhecer por música popular brasileira? Todas as músicas compostas, produzidas e gravadas em território nacional? Composições mais regionalistas, que retratam os estilos musicais de cada região do nosso país? Será que o folclore também faz parte da tal MPB?
Queiram me desculpar leitores, mas infelizmente não tenho as respostas para perguntas tão perturbadoras e nem é meu objetivo com essa coluna esclarecer tais tipos de dúvidas. Não quero entrar em atrito com os pagodeiros, os funkeiros, os roqueiros, os axezeiros ou os “emepebezeiros”; pois é, dentro da música feita no Brasil, existe um estilo musical denominado mpb, é mais ou menos como a música popular brasileira em si mesma ou vice e versa; interessante não? Portanto, tentando evitar problemas, vou voltar a um “significado” criado no fim dos anos 90 por mim e por companheiros que trabalhavam em uma rádio comunitária (Rádio Santê) aqui em BH. A partir deste primeiro número, esta coluna irá tratar de assuntos relacionados à MPB (Música PoRpular Brasileira). Isso mesmo, com “R” maiúsculo depois do “o”. E vocês me perguntam: “O que isso significa?”. Bom, na época foi como chamamos o tipo de música pouco conhecida pelo público em geral, músicas que não são divulgadas pela mídia, que não tocam cem vezes por dia em todas as rádios. Músicas de compositores comprometidos, que sabiam de sua função social, política e até mesmo espiritual. Quem nunca chorou ouvindo uma música, que vá pra “Tonga da Mironga do Kabuletê”! É com esse objetivo que também começo a escrever sobre nossa música poRpular.
A partir de fatos, casos e causos e, de vez em quando, de algumas lendas buscarei um paralelo entre a história de nossa música e a história de nosso país, que é a estória do povo que criou uma diversidade cultural riquíssima, diversidade essa que, dependendo do ponto de vista, pode ser dividida em duas partes: uma parte minoritária, que sabe que manda, que é detentora do poder econômico e, na maioria das vezes, político, comandando através dos meios de comunicação aquilo que você vê, ouve e opina (eles se auto definem como “Dominadores”); e outra parte sem poder político, na maioria das vezes sem poder econômico e que vive alheia a essa dominação, criando a cultura do país, estabelecendo uma identidade (são definidos como “Dominados”).
Não deixando de lado, é claro, o pequeno e não menos importante detalhe de que no caso do Brasil, um país que pode ser considerado colônia em vários aspectos, a cultura do Dominador também sofre imposição exterior, já é uma cultura também dominada, pois no nosso querido planeta globalizado, a cultura universal é não menos que a cultura regional de alguém imposta pra todo mundo.E desde de que começou a ser chamada de música popular - isto é, música feita na maioria das vezes em centros urbanos e para o lazer, desde de que se fundiram europeus, índios e negros, até os dias atuais onde a tecnologia influencia tudo - nossa música passou por tendências, movimentos e estilos diversos. É sobre isso que vamos falar e, pra começar, contarei o episódio que deu título a nossa coluna: Luiz Gonzaga, certa vez, estava voltando pra casa, isso depois de fazer o maior sucesso, rodar o país e já ser considerado o “Rei do Baião”. Levava consigo seu fole prateado, um acordeão de 120 baixos, instrumento pra ninguém botar defeito. Sentia-se “o maioral”, todo prosa, convencido de que seu pai Januário ficaria de queixo caído quando visse seu filho desse jeito. Mas, passando por Granito, uma cidade próxima a Exu, sua cidade natal, ele encontrou o velho Jacó. O velho, que já conhecia Gonzagão desde menino, notou aquele ar de metido, e não gostou nada. Foi por isso que aconselhou a Luiz a criar vergonha na cara e respeitar o pai dele, o Januário, que tinha uma sanfona de unicamente oito baixos, mas que conseguia um som que arrepiava até careca. “E foi aí que me falou, meio zangado, o véio Jacó: Luiz, respeita Januário! Tu pode ser famoso, mas teu pai é mais tinhoso... respeita os oito baixo do teu pai”. Se não acreditam na minha estória, podem ouvir da boca do próprio Gonzagão, a música se chama “Respeita Januário” e é linda. Respeito tenho eu por uma pessoa que faz uma música engraçada, rítmica, que fala sobre seu próprio ego e usa a si mesmo como exemplo. Salve Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”, que aprendeu e nos ensinou que a vaidade é uma questão de quantidade, a música não. E quanto a nós: será que lembramos, de vez em quando, de respeitarmos nossos “Januários”? Pois então, lembrem-se, minha gente, RESPEITEM JANUÁRIO!
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