El Estado y el Texto / O Estado e o Texto

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español -  Es el texto el enemigo del Estado. ¡No, por supuesto que no! El estado está en función del Texto, el Estado es para sostener el Texto, es por eso que en contrapartida para ayudar a la energía, el Texto debe ser leve, recordemos que estamos hablando de estructuras energéticas, espirituales y mentales, tejiendo sus tramados  en el aire. El Estado es la estructura, los puntos de apoyo, físicos, energéticos y respiratorios en armonía de una forma activa e intuitiva. Al Estado también se llega por la repetición. Para eso está la partitura, en la que el texto es nada más que una acción física, tal vez el mejor tratado sobre esto sea el capítulo  llamado Atletismo Afectivo de " El  Teatro y su Doble " de Antonin Artaud. português -  O Texto é o inimigo do Estado? Não, é obvio que não! O Estado está en función do Texto, o Estado é para sustentar o Texto, é por isso que em contrapartida, para ayudar a energia, o texto deve ser leve. Sempre lembremos que estamos fa

Perfil

Ítalo Mudado
São poucos os que têm coragem de afirmar aos 76 anos de idade que nunca
se apaixonaram na vida: “Sim, acho que a minha maior paixão foi pela arte”


Há 60 anos Ítalo Mudado não muda. A casa antiga na rua Paracatu do Barro Preto é a mesma onde passou a juventude. È bem verdade que o número de moradores diminuiu consideravelmente; eram treze, quando se mudou, e hoje são apenas três. Nem por isso a harmonia deixou de habitar o lugar que funciona quase que como um refúgio de artistas e amigos.
Assim também é a carreira artística de Ítalo Mudado que há 60 anos faz teatro do mesmo jeito. Um teatro “à moda antiga”, sem grandes segredos para preparação do corpo, sem soluções mirabolantes para os cenários, mas com uma preocupação incomum com a palavra, seus significados e conteúdos. Foi assim com o espetáculo Espectros, de Henrik Ibsen - que co-dirigiu e esteve em cartaz pela Campanha de Popularização do Teatro e da Dança - e é assim sempre.
Quando vai ao teatro, Ítalo espera que ele produza encantamento. “Para mim é um prazer imenso ver um bom texto sendo interpretado com profundidade. Isso me enriquece, me dá significado para viver”. Pra justificar a atenção excessiva com o texto, ele cita o poeta inglês Percy Bysshe Shelley (1792-1822), que diz que uma coisa bela é uma alegria para sempre. Para Ítalo o que é belo é aquilo que toca e emociona, algo que não se esquece. “Por isso que eu gosto tanto de arte. Ela é um caminho para levar beleza para as pessoas”, afirma. O português e a literatura sempre estiveram presentes em sua vida. Quando criança, uma professora do primário, muito carinhosa e dedicada, lhe fez apaixonar-se pela escola. Na hora do vestibular acabou optando por Ciências Sociais, sem saber explicar muito o porquê. Fez um ano de curso, mas acabou desistindo: “A grade era muito chata. Tinha que estudar estatística, tinha que estudar matemática”. Em uma aula de filosofia o professor disse que a literatura é a “propedêutica da filosofia”, é ela quem prepara para o pensamento, mas de uma forma mais bela e menos árida. Na questão profissional Ítalo nunca teve anseios e medos, todas as mudanças aconteceram naturalmente. Foi assim que, sem remorso algum, abandonou o curso de Ciências Sociais e fez novo vestibular para Letras.
Ítalo admite que sempre conservou essa “serenidade”, uma calma contagiante em quase todos os aspectos da vida, inclusive no amor. São poucos os que têm coragem de afirmar aos 76 anos de idade que nunca se apaixonaram na vida: “Sim, acho que a minha maior paixão foi pela arte, pelo belo”. É verdade que quando jovem fez muitos poemas sobre a paixão platônica, o que para ele está em outro plano, no campo da imaginação e não da realidade. Nunca viveu o entusiasmo da paixão e supõe que isso talvez tenha acontecido por excesso de literatura. “Também não há muita diferença, não é? A literatura se confunde muito com a vida. Só que a vida é mais cruel... embora ambas sejam virtuais”, acrescenta brincando com os conceitos.
O envolvimento com o teatro começou aos 16 anos, quando estudava no Colégio Batista. Uma turma mais avançada que a dele tinha um grupo de teatro fora da escola. Eles viram um poema dele publicado no jornalzinho da escola e acharam que, como ele gostava de literatura, devia gostar de teatro. Assim veio o convite para trabalhar como contra-regra em uma montagem de Casa de Bonecas, de Henrik Ibsen. A direção era de Otávio Cardoso que mais tarde viria a ser diretor do TU, o Teatro Universitário.
Na peça seguinte, Etecetera e Caracóis, escrita e dirigida por José Mesquita de Carvalho, foi a primeira vez que trabalhou como ator. Fez um papel de professor de português... “talvez já indicando alguma coisa”. Logo depois atuou em Iaia Boneca de Ernani Fornari, onde fazia o papel de um velho. “Foi aí que tomei o gostinho pelo teatro”, explica.
Quando entrou para a faculdade, qualquer aceno já era motivo para fazer teatro. Lá trabalhou com Virenzo Spinelli, um italiano que veio para o Brasil depois da segunda guerra, uma figura cultíssima que pediu para o reitor da época autorização para fundar o Grupo de Teatro Universitário. Foi ali que nasceu o TU, não como escola, mas ainda como grupo. Ítalo participou como ator das primeiras peças desse grupo: uma peça do Pirandello, da qual não se lembra o nome, um Auto Italiano chamado O Jogador e a morte e uma dramatização de poesias medievais.
João Ceschiatti assistiu suas apresentações e o convidou para trabalhar com ele no teatro do SESI. Dessa figura emblemática do teatro mineiro, Ítalo Mudado guardou muitos ensinamentos. “Ceschiatti tinha uma grande virtude, ele não corrigia o ator. Deixava ele ir criando e, de repente, quando a gente menos esperava, ele explodia. Era meio nervoso, mas um excelente diretor”, recorda. No SESI, João Ceschiatti fazia teatro para operários, mas não se acomodava, propondo textos simples, tentando adequá-los ao público. Era múltiplo, montava textos de Pirandello, Garcia Lorca, Molière, Martins Pena. Fazia tragédia, comédia, drama.
Principalmente por causa dessa multiplicidade Ítalo acredita que João Ceschiatti merecia mais do que uma sala com o nome dele no Palácio das Artes. Ele e Otávio Cardoso são as maiores influências para seu trabalho de direção. Eles mostraram-lhe o nível de exigência que um diretor tem quando é cuidadoso. Certa vez, durante um ensaio, Ótavio Cardoso fez uma atriz repetir a frase “meias cor de sangue” por mais de dez vezes, porque “ela não colocava a emoção que a cena devia ter”. Em dado momento a moça não agüentou e chorou, ele disse: “Agora ficou bom”.
Quando lecionava no Colégio de Aplicação, Ítalo foi convidado pela diretora da escola, a escritora (autora de A Bonequinha Preta, entre outros livros), educadora, ex-vereadora e professora emérita da UFMG Alaíde Lisboa (1904-2006) para dirigir um espetáculo nas comemorações da Páscoa. Ela sabia que ele era ator e já havia feito algumas peças, embora nunca tivesse dirigido. A essa altura ele já estava muito envolvido com o magistério e não estava pensando em teatro. Sem muita escolha, acabou dirigindo os alunos do colegial no espetáculo Pluft, o Fantasminha, texto de Maria Clara Machado. Quem conhece o TU sabe de um tablado de cimento no canto do pátio central. Esse tablado foi construído nessa época, por ordem de Alaíde Lisboa, para que os alunos dirigidos por Ítalo se apresentassem.
Daí para frente dirigiu espetáculos teatrais em todas as escolas que trabalhou, como no Teatro Escola da Cruz Vermelha, no TU por 11 anos, no Colégio Universitário e na Faculdade de Letras. Participou também na fundação de vários grupos de teatro, como o Grupo Mineiro de Comédia e o Grupo de Teatro Clássico. Além do Grupo Intervalo que já tem 22 anos e mais de 40 peças no currículo.
Quando indagado sobre a função do teatro, Ítalo é espontâneo: “A função do teatro é a mesma função que tem tudo na vida: Dar aula, fazer uma cadeira, ir ao bar para tomar cerveja. Acho que tudo tem a ver com viver”. E conclui dizendo que devemos pensar no público, como se o público fôssemos nós mesmos: levar para o palco o que gostaríamos de ver e ouvir.

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