(El Olvido)
por Carlos Terzaghi
(Professor de História Social do Teatro daEscola Municipal de Arte Dramático de Montevidéu)
Os atores são essencialmente exibicionistas: vivem de se mostrar, gostar e se vender. Embora ninguém pague, bebem com fruição o licor do aplauso e a aceitação. Parecido com as prostitutas, embora essas meninas estejam mais perto da linha de Grotowski (por esse negócio de pouco público). Ávidos de reconhecimento, aos atores de teatro é negado o beneficio da posteridade. Das muitas desgraças que afligem a esses artistas, existe uma em particular: eles serão esquecidos. Arte volátil a arte do ator; a desfrutam ou sofrem sós os públicos que são contemporâneos a eles. Depois, vagas lembranças, anedotas, difamações (muitas vezes consomem em vida as difamações). Isso é bom. Um ator difamado perdura mais. Talvez as difamações sejam verdadeiras. Talvez.
Uma história da literatura dramática de 1.000 páginas pode ser só uma introdução; uma história da arquitetura teatral tem que ter no mínimo 500 páginas.
A história dos grandes comediantes de Van Tieghem tem 63 páginas e diz quase tudo.
Quiçá alguns de você lembre de uma atriz chamada Éucaris (Roma antiga antes do império) uma gatinha que morreu aos 14 anos “...tão hábil na sua profissão que as musas mesmas, parece, foram as suas mestres...” não temos a fita, até nos chegou só um epitáfio breve como a sua existência. Outra atriz é uma grega com residência romana, chamada Antiodemis e chegou a nós graças a um poeta (Antipatro de Sidón) que a viu e a descreveu “... seus braços ondulam como a água, é tão flexível que parece não ter ossos...”. Esses dados podem nos dar alguma informação sobre elas, mas é muito menor a sua perduração que a de Plauto ou Terêncio, que foram seus contemporâneos.
A história dos atores é a história de artista injuriados, censurados, perseguidos e condenados. Poucas vezes amados e invejados.
Hoje é menos arriscado ser ator, mas o estigma da dor permanece. A formação do ator é um sofrimento episódico para chegar a ser um sofrimento sistemático. Porem, ninguém os segura, se alimentam de uma mística sectária, são portadores de uma arte relegada pelos grandes espetáculos do século e, contra tudo, sobrevive. Se retro-alimentam da sua condição minoritária, fazendo verdade aquela frase de Hegel que Engels cita e que diz “...tudo o que existe merece perecer...”.
Shakespeare morreu em 1616, chegou a nós e ainda está em nossas vidas porque, além da atuação, arranjou um bico de dramaturgo. Garrik, ator da Inglaterra que, segundo os versos “...o povo ao aplaudi-lo lhe dizia, você é o mais engraçado da terra e o mais feliz...”, morreu em 1779 e é apenas lembrado. Dizem que foi um grande intérprete de Shakespeare. Eu não o vi, não sou milenar, mas se fosse, não teria escolhido a Inglaterra dessa época. O século XVIII era para curtir em Paris. Lá tinha monarquia, ordem, novas idéias e sobretudo a Senhorita Gaussin, com 20 anos, isso em 1731. Muitos poetas tem louvado “...Seus olhos lânguidos e sua voz comovedora...”. Até a revolução em 1789 teria estado em Paris, depois sim, iria para Londres, mas, Garrik já estaria morto e começando a ser esquecido.
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